Que Horas São em Tua Burrice?

Registros de uma vigia de chuva

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Porém já nascemos livres.






(Foto:Thalita Ciana)

Um comentário:

  1. um gato preto que passou...
    o gato preto divagava pela noite sem luar, andava com os olhos, o corpo era algo invisível de movimentos, buscava algum “sei lá o que”, não era comida e nem era água, mas era uma necessidade de extrema urgência para as suas vidas restantes, necessidade essa que lhe era negada em todos os sentidos, negavam sua existência e em conseqüência da inexistência negavam-lhe a obtenção, pois não se pode obter o inexistente, mas pode-se busca-lo, então, assim mesmo ele continuava.
    De suas sete vidas restavam-lhe três. Perdeu a primeira, queimado pelas fogueiras da inquisição junto a uma bela mulher que lhe dava leite, peixe e carne fresca sempre que podia, teve uma boa vida e uma péssima morte, ainda se lembrava da dor e sempre que se lembrava, doía. A segunda vida foi assassinada brutalmente por crianças psicopatas que por falta de imaginação resolveram brincar de jogar o gato o mais próximo do meio do rio e ver o que acontecia, se ele conseguisse nadar tanto era sinal de que seria um bom nadador, mas o gato preto nem nada,r sabia, morreu, onde pousou . A terceira vida foi perdida por morte morrida, morreu de velhice ao lado de sua dona, uma rica velhinha que morava na tranqüilidade de um sitio bons tempos aqueles de amor e esperança. A quarta vida havia sido tranqüila, era um gato de rua, mas na zona em que rondava e ronronava sempre lhe davam o que comer, até que em um belo dia quando foi brincar com uma das vizinhas do monte de papelão e lixo que ele cria ser um lar, um arranhão acidental, um pequeno ponta-pé de vá embora e à noite quando ele menos esperava, a vingança do vizinho enraivecido. Á pedido do pai o filho pega o gato preto e põe numa caixa, achando na sua amarga e doce inocência que iam dar uma pequena lição no pobre ser, chegada a caixa com o seu prisioneiro, o pai muito calmamente pega um grosso e pesado pedaço de madeira e sem muito pensar o joga com força na caixa, assustando telespectadores da vida e da morte e findando a de numero quatro.
    Com tantas lembranças o gato resolveu tomar consciência do que buscava, mas o que realmente ele buscava? Viveu muito na quinta vez, resolveu não se acomodar a um lugar ou a uma pessoa ou pessoas, desta vez conheceu mais gatos do que nunca havia conhecido, um deles havia morrido queimado ao seu lado em sua primeira vida. Virava-se para não passar fome e passava fome, muita, mas já havia feito sua escolha, seria um caminhante. Caminhante. Era esse o pensamento certo, o que o gato preto buscava, ao acaso descobriu que o que buscava não era boa comida, água e leite, uma gatinha manhosa e felpuda, ou um humano amigo, satisfazia suas necessidades básicas somente para satisfazer sua necessidade maior, a necessidade de viver, caminhava em busca do caminho, sua busca era a vida e ele já havia a encontrado cinco vezes e ainda tinha muito por encontrar.

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