Que Horas São em Tua Burrice?

Registros de uma vigia de chuva

terça-feira, 18 de maio de 2010

Kafka ( A grande muralha da China )

-Já acabei de construir a toca e parece que com êxito. Tudo o que se consegue ver de fora
é um grande buraco; este porém, na realidade, não leva a parte alguma; ao dar-se uns quantos passos mais, encontra-se apenas rocha natural bem dura. Não me posso gabar de ter inventado este estratagema propositadamente; trata-se apenas dos restos de uma das minhas muitas tentativas abortadas de construção, mas que por fim me pareceu aconselhável deixar aberto, sem o encher de terra, é verdade que alguns destes artifícios são tão subtis que se derrotam a si próprios, sei-o melhor do que ningué,m e decerto que é um risco chamar a atenção através desse buraco para o facto de poder haver qualquer coisa na vizinhança que valha a pena investigar. Mas vocês não me conhecem, se julgam que tenho medo ou que fiz a minha toca simplismente por medo. À distância de uns mil passos deste buraco, fica, coberta por uma camada de musgo removível, a verdadeira entrada para a toca; é tão segura quanto pode ser seguro tudo o que existe no mundo; contudo, qualquer um pode pisar no musgo ou furá-lo e então a minha toca ficará aberta e qualquer um que queira - por favor notem, que, apesar de tudo também são necessárias capacidades bastante invulgares -
poderá abrir caminho e destruir tudo pra sempre.
Sei-o muito bem, e mesmo agora, no apogeu da minha vida, mal consigo passar uma hora em completa tranquilidade; nesse único pontodo musgo escuro é que sou vulnerável e nos meus sonhos vejo com frequencia um focinho guloso farejando á sua volta teimosamente.
Poderão objectar que eu podia muito bem ter enchido também a entrada com uma fina camada de terra rija por cima e de terra mais abaixo, de forma a não me dar muito trabalho, quando quisesse sair.

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